sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A MORTE DO PEDREIRO

Isaac Gregorio

Já faz dez anos mas ainda me lembro do episódio ocorrido com Sérgio, um pedreiro de “mão cheia” e querido de todos na pequena e pacata Barra do Choça, cidade do Sudoeste baiano.

Tomado de susto pela notícia trazida não sei por quem, fui ao local do acidente mas ele não estava mais lá. Tamanha tinha sido a gravidade do choque que o conduziram imediatamente ao hospital. No pronto socorro, a expressão de descrédito estava estampada na face de familiares e amigos. A notícia que ninguém queria ouvir não tardou a chegar.

Um rapaz jovem, alto e muito amigo da vítima deixou a entrada do hospital em prantos, desesperado. “O médico disse que Sergio não tem mais vida”, disse com voz embargada. O silêncio foi inevitável. Fiquei sabendo depois que o jovem que balbuciara aquelas palavras as quais não queríamos mas fomos obrigados ouvir e encarar desceu uma escada com o amigo acidentado nos braços e ainda providenciou transporte na tentativa frustrada de salvar a vida de Sérgio.

Semblante ainda jovial, o construtor de casas beirava aos cinqüenta anos quando morreu deixando dois filhos crescidos e uma esposa desolada. Uma senhora de nome não identificado passava na rua Juraci Magalhães sem número, justo na hora do acidente. Passava das oito da manhã e o sol ainda não mostrara sua cara e aquela manhã de inverno ganhava um clima típico dos dias sombrios de morte.

O prédio onde o profissional trabalhava estava ainda no primeiro andar. Uma teia de fios de alta tensão pendurada num poste passava rente à parede frontal, local que escolhera para chapar a primeira massa daquela quinta-feira; seu último dia de vida. A ferramenta mais utilizada para a atividade que o pedreiro desempenhava era a régua de alumínio medindo uns dois metros. Numa manobra de alisamento da massa espalhada na parede, a régua encostara num dos fios e o trabalhador recebera uma descarga de sete mil volts vindo a falecer. Vizinhos afirmaram que o proprietário havia solicitado da companhia de eletricidade a remoção do obstáculo mas não souberam dizer o porquê da improcedência do expediente.

Foi tudo muito rápido. Enquanto os dois ajudantes de Sérgio trabalhavam no térreo, o soar das ferramentas foi interrompido com gritos de “o rapaz que está lá em cima tomou um choque”. Subiram a escada às pressas e encontraram-no estendido na laje. Por pouco não despencara de uma altura de aproximadamente dez metros. Não adiantou levá-lo ao hospital, o homem já não tinha mais vida apesar da rapidez no socorro.
No horário marcado para o enterro, foi difícil não se comover com o desespero traduzido em desmaio de familiares da vitima.

Vândalos, vento e chuva destruíram parte da construção onde Sérgio foi vitimado, mas duas coisas sobrevivem à ação do tempo: a rede elétrica e uma placa afixada no oitão da casa que diz: “em breve padaria”.

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