domingo, 13 de setembro de 2009

Desespero de um pai resulta em suicídio

Cícera Azevedo

Na tarde de ontem no bairro Bruno Barcelar às 5:00h da tarde um jovem de 22 anos e pai de quatro filhos cometeu um suicídio. A polícia foi até o local e de acordo com o exame pericial o ato realmente configurou o suicídio. Segundo informações de parentes e amigos de Alex, o suicida, ele e a esposa estavam desempregados há algum tempo e estavam tentando conseguir um emprego em qualquer ramo de trabalho. Durante o dia ele tinha ido a feira recolher as frutas e verduras dispensados pelos feirantes.

Alice, esposa de Alex, tinha levado sua filha mais nova a creche para comemorar o aniversário de um ano da menina e tinha deixado Alex concertando o piso do quarto do casal. Quando chegou em casa encontrou a Polícia, o Serviço Médico de Emergência e uma multidão de curiosos e sem entender nada foi informada do suicídio de seu parceiro.

O Bruno Barcelar é um bairro carente de Vitória da Conquista onde o saneamento básico e a iluminação são inadequados, como em todo bairro periférico da cidade. A população carente além de viver marginalizada convive com o descaso do poder público e o reflexo são pessoas sem perspectivas de melhoria de vida. Agora resta a Alice a dura realidade de criar quatro filhos sem emprego, sem o companheiro e a revelia das mazelas sociais.

JUVENTUS SAGRA-SE CAMPEÃO MUNICIPAL 2009

Isaac Gregorio

Em março deste ano, o grito de “É CAMPEÃO” que estava entalado na garganta de torcedores do Juventus Futebol Clube desde 1995 ecoou pelos quatro cantos de Barra do Choça. A partida final, disputada no Estádio Ouro Verde, foi um verdadeiro teste para cardíacos. A torcida, apaixonada pelo vermelho e branco, lotou as arquibancadas para ver o time sair na frente, ceder o empate (1 a 1) ao Barra Esporte Clube e depois das penalidades correr para o abraço com lágrimas, berros, suor e tudo.

Após o empate o jogo ganhou, verdadeiramente, cara de final de campeonato com catimba, reclamação, provocação e até expulsão. O jogo teve todos os atributos que uma grande final merece. O árbitro Ariosvaldo Lima, 17 anos de apito, contou com menções honrosas e não poderia ter encerrado sua brilhante carreira assistindo melhor partida.

Aos quarenta e seis minutos do segundo tempo, com os corações pulando do peito, os torcedores pediram o fim do duelo e foram atendidos. O juiz Hélio Silva apontou o centro do gramado, ergueu os braços e soprou com força seu apito silenciando uma arquibancada até o momento eufórica. “Pênalti é loteria, pênalti é loteria, pênalti é loteria”, repetiu em sussurros, nervoso, um torcedor que esperava a primeira cobrança da etapa angustiante.

O Juventus converteu cinco cobranças superando o Barra que havia acertado apenas quatro. Daí em diante ninguém mais segurou atletas e torcedores que invadiram o estádio numa demonstração de apoio e paixão pelo esporte. Há muito tempo não se via um campeonato terminar de forma tão bonita e exemplar.

A festa do campeão começou no estádio, continuou na praça do ginásio de esportes com um show de uma “banda da terra” chamada ‘Novo Estilo’. “Valeu Barra pela garra, técnica, determinação e vontade de vencer. Parabéns Juventus e fim de papo”, disse o locutor de uma rádio pirata ao encerrar a cobertura do jogo.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A MORTE DO PEDREIRO

Isaac Gregorio

Já faz dez anos mas ainda me lembro do episódio ocorrido com Sérgio, um pedreiro de “mão cheia” e querido de todos na pequena e pacata Barra do Choça, cidade do Sudoeste baiano.

Tomado de susto pela notícia trazida não sei por quem, fui ao local do acidente mas ele não estava mais lá. Tamanha tinha sido a gravidade do choque que o conduziram imediatamente ao hospital. No pronto socorro, a expressão de descrédito estava estampada na face de familiares e amigos. A notícia que ninguém queria ouvir não tardou a chegar.

Um rapaz jovem, alto e muito amigo da vítima deixou a entrada do hospital em prantos, desesperado. “O médico disse que Sergio não tem mais vida”, disse com voz embargada. O silêncio foi inevitável. Fiquei sabendo depois que o jovem que balbuciara aquelas palavras as quais não queríamos mas fomos obrigados ouvir e encarar desceu uma escada com o amigo acidentado nos braços e ainda providenciou transporte na tentativa frustrada de salvar a vida de Sérgio.

Semblante ainda jovial, o construtor de casas beirava aos cinqüenta anos quando morreu deixando dois filhos crescidos e uma esposa desolada. Uma senhora de nome não identificado passava na rua Juraci Magalhães sem número, justo na hora do acidente. Passava das oito da manhã e o sol ainda não mostrara sua cara e aquela manhã de inverno ganhava um clima típico dos dias sombrios de morte.

O prédio onde o profissional trabalhava estava ainda no primeiro andar. Uma teia de fios de alta tensão pendurada num poste passava rente à parede frontal, local que escolhera para chapar a primeira massa daquela quinta-feira; seu último dia de vida. A ferramenta mais utilizada para a atividade que o pedreiro desempenhava era a régua de alumínio medindo uns dois metros. Numa manobra de alisamento da massa espalhada na parede, a régua encostara num dos fios e o trabalhador recebera uma descarga de sete mil volts vindo a falecer. Vizinhos afirmaram que o proprietário havia solicitado da companhia de eletricidade a remoção do obstáculo mas não souberam dizer o porquê da improcedência do expediente.

Foi tudo muito rápido. Enquanto os dois ajudantes de Sérgio trabalhavam no térreo, o soar das ferramentas foi interrompido com gritos de “o rapaz que está lá em cima tomou um choque”. Subiram a escada às pressas e encontraram-no estendido na laje. Por pouco não despencara de uma altura de aproximadamente dez metros. Não adiantou levá-lo ao hospital, o homem já não tinha mais vida apesar da rapidez no socorro.
No horário marcado para o enterro, foi difícil não se comover com o desespero traduzido em desmaio de familiares da vitima.

Vândalos, vento e chuva destruíram parte da construção onde Sérgio foi vitimado, mas duas coisas sobrevivem à ação do tempo: a rede elétrica e uma placa afixada no oitão da casa que diz: “em breve padaria”.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O desespero

Cícera Azevedo

Março de 2008. A vida policial é gratificante por vários motivos e o principal deles é o contato com os problemas que afligem a uma parcela considerável da sociedade – a comunidade carente e esquecida. Estava em minhas operações policiais de rotina no Bairro Bruno Barcelar quando ouvir pelo rádio que um rapaz tinha tentado se suicidar. De imediato desloquei-me para o local. Durante o deslocamento foram feitos alguns comentários sobre o que poderia ter levado uma pessoa a tentar o suicídio. Vários foram as opções, como problemas afetivos a consumo de drogas.
A casa estava localizada no alto do Bruno, onde estão as famílias mais carentes; iluminação precária e o piso da rua de terra batida. Fazia frio, apesar de estarmos em março, e já passava das cinco horas da tarde. Na entrada da casa, se é que podemos chamar de casa uma vez que a estrutura lembrara mais um barraco, muitos curiosos e entre estes estavam os vizinhos e parentes. A residência era muito pequena, a entrada era pela cozinha onde poderia visualizar todos os cômodos - um quarto, uma sala e um corredor que os ligavam. Quando adentrei à residência fui surpreendida com um suicídio e não com uma tentativa do mesmo. Imagem muito forte! Espiritualmente e mentalmente já tinha desenhado a cena do ocorrido. Não demorou muito de o serviço médico chegar, só restando a comprovação do óbito. O local foi isolado para a perícia trabalhar por que outras possibilidades poderia ter ocorrido, a exemplo de um homicídio; mas nesse caso em especifico foi comprovado o suicídio. Restava-nos, eu e as equipes envolvidas, colher informações que pudessem elucidar o fato. Alex, o suicida, tinha 22 anos, pai de quatro filhos e desempregado; durante o dia ele costumava ir à feira no final da tarde, não para comprar, mas para recolher as melhores frutas e verduras no lixo, descartadas pelos feirantes. Há algum tempo ele e sua esposa Alice vinham procurando emprego nos mais diversos setores, nada conseguiam. Nesse dia Alice foi levar a filha caçula à creche, pois era o aniversário de um ano da menina e passou a tarde toda por lá. Alex tinha ficado em casa concertando o piso do quarto e que foi deixado pela metade. Estávamos todos na casa de Alice quando ela chegou por volta das cinco e trinta com os filhos e um pedaço de bolo que seria entregue a Alex. Como comandante do policiamento envolvido me coube a função de informar a família do ocorrido, momento delicado para uma mulher que teria sido “abandonada” pelo esposo com quatro filhos. Pelo o que foi levantado Alex teria cometido esse ato em um momento de desespero, pois a família passa necessidades.
Sobre os comentários, no inicio da narrativa, a cerca das causas do cometimento desse ato não acertamos. Essa atitude compreensiva, mas não louvável é o reflexo das injustiças sociais e do descaso com os marginalizados.